Macarons são caros e artificiais, meros corantes e aromatizantes. Algo como pagar caro em refresco ou chiclete. A Vanilla & Louro – desde 2014 em Novo Hamburgo e desde o fim de abril em Porto Alegre – tenta fugir disso usando flavores que possam ser extraídos de suas fontes naturais (baunilha, cumaru, café, cacau, azeite de oliva, pistache, chá) e criando uma “coleção” de sabores a cada estação. Mas, contrariando minha expectativa, foram os piores macarons que já comi.
Um bom biscoito de macaron brinca com o contraste de texturas, tem uma casquinha fininha e crocante – como uma folha de caramelo bem fininha, quando se morde, ela deve se estilhaçar – e um interior cremoso, úmido e macio. Os biscoitos dos macarons da V&L não tinham essas duas texturas, a casca e o interior se confundiam porque a casca estava murcha e grossa, e o interior estava pouco aerado e firme como borda de bolo. Não era um biscoito, era um bolo, um bolo ressecado e massudo.
O recheio de um macaron precisa ser um creme aveludado, liso e levemente adocicado. É algo que espalha pela boca e massageia a língua. Os recheios da V&L – aposto minha língua nisso – são brigadeiros. São feitos com leite condensado mesmo. E os que comi ainda eram brigadeiros de dois dias no balcão, massudos e secos, com textura granulosa porque o açúcar já estava sofrendo sinérese.
O sabor de café era agradável no primeiro momento, mas havia um retrogosto estranho que sobrepunha o café na boca logo em seguida. O macaron de chocolate branco e cumaru me lembrou comer um beijinho de dois dias, incluindo o gosto de coco ressecado e cravo fora do tom. Esse chocolate branco e esse cumaru estavam esquisitos, por que eu senti coco e cravo?
Poderia ser apenas uma falha nos macarons? Acho que não. O financier de chocolate branco, framboesa e manteiga noisette estava úmido, macio, denso, levissimamente adocicado, sabor suave, sem qualquer contraste (nem bordinhas de Maillard, acidez das framboesas, doçura da massa, nada: um excelente bolo inglês neutro). O mais excitante do pain au chocolat foi a pronúncia de seu nome pelos Dellecole mãe (no balcão) e filho (no caixa).
O atendimento? Bem, duas senhoras sentadas na última mesa do (ajeitaditinho, mas claustrofóbico) salão se levantaram e saíram indignadíssimas com a demora e confusão – éramos apenas cinco clientes na loja. Eu tive vontade de acompanhá-las e voltar outro dia, mas fiquei. Erro meu, acerto delas. Apenas um dia ruim na Vanilla & Louro, problemas por terem acabado de expandir? Não sei, não voltarei para descobrir.