Eleven Madison Park foi escolhido o melhor restaurante do mundo pela World’s 50 Best Restaurant 2017. A esquisita ascensão do EMP relembra que é arriscado dar credibilidade à soi-disant Academia (ou ao Guia Michelin, que lhe confere três estrelas desde 2012). Relembra que não se pode dar crédito a uma Academia que escolhe o breguíssimo Josimar Melo como presidente do júri brasileiro. É claro que não existe essa coisa de melhor restaurante do mundo, só era mais fácil acreditar quando o título era de Massimo Bottura ou de René Redzepi. Mas EMP? É até covardia. O que Daniel Humm faz além de esquiar e tirar fotos com chefes de cozinha famosos? Pato com lavanda e mel? Puff, por favor.
O salão do EMP é tido como opulento pela “crítica”, mas não impressiona. O prédio é bonito, o pé direito é alto, mas as mesas são minúsculas e grudadas umas nas outras. São mesas de praça de alimentação e a foto não me deixa mentir. Um restaurante opulento tem mesas irracionalmente enormes e espaçadas. Os garçons são muito mal preparados, demoram e se atrapalham no serviço à la carte. Um derramou água na mesa (e não secou), outra (coitada) escorregou com um prato na mão e fez estardalhaço no meio salão. Ao menos, os outros reagiram com dignidade e presteza para acudi-la e limpar a bagunça.
A comida é refinada, contudo, não é saborosa, bonita ou minimamente interessante. A alface aspargo glaceada com pêssegos e ovas de truta ($22) foi o prato mais bonitinho e o menos gostoso da noite. A alface aspargo estava molenga e mais insossa que chuchu (inclusive, achei que era chuchu). As ovas e o pêssego me deram ânsia. Sim, ânsia. O fois gras marinado em pêssego e gengibre ($28) era apenas fois gras com um pedaço de pêssego em cima. Além de feio, não havia trabalho ali, eram ingredientes ordinários meramente empilhados. Cadê o conceito, o trabalho, enfim, o cozinheiro? Devia estar esquiando.
O pato assado com nectarina e endro ($45) estava sem graça. O pato estava no ponto, mas estamos falando de um prato assinatura (Humm varia constantemente como serve seu peito de pato assado), ponto certo não basta. A mandíbula de porco grelhada com rabanetes e flores de cebola ($34) foi o acerto da noite. Um prato feinho, mas delicioso! A mandíbula estava macia e suculenta, desmanchava com o garfo. O rabanete e a flor de cebola ofereciam um suave, fresco e picante contraponto ao porco gorduroso e defumado.
Como sobremesas, cheesecake de berries com sorbet de groselha branca e vinagre de framboesa ($18) e sundae com brownie de chocolate, sorvete de pralinê de cítricos e caramelo de bourbon ($18). A primeira passou: era fresca, azedinha, colorida e quase saborosa. Minha companhia no jantar até achou bonita – discordei. O sundae… o sundae foi um pavor. A tigela chega, há apenas uma enorme esfera de chocolate que a garçonete derrete despejando calda quente de bourbon. Dentro, há mais gororobas marrons e dois cubões brancos. Era tanto chocolate, estava tudo tão doce, que não deu para engolir.
Além disso, serviram apenas um mesmo brioche monótono e usaram os mesmos talheres e louças, também monótonos, durante a noite toda. O melhor restaurante do mundo pode se dar o luxo de não ter uma cesta de pães e não adequar os talheres e louças aos pratos, é isso? O slogan do EMP e o mantra pessoal do Humm é “make it nice”. A princípio, soa patético. Como “nice” pode ser um objetivo na alta gastronomia? “Nice” não é suficiente, “nice” não basta. Mas, considerando o que servem e como servem, “make it nice” já é um enorme desafio a ser vencido pelo EMP.