O olhar percorre o salão do Press Bar e Restaurante. Não, não pode ser coincidência. Salto alto, sapatênis, calças jeans rasgadas, corpos esculpidos pelo dinheiro e pelo ócio, camisetas-outdoors, decotes-outdoors, filhotes loiros de olhos claros em carrinhos MacLaren. Os problemas das pessoas que comem ali variam entre achar uma doméstica por um salário menor que o mínimo e fazer seus bens parecerem o dobro do que são. Afetação, narizes e mindinhos em riste. Não é uma questão de preço. Existem restaurantes caros em que essas pessoas não entram.
Você pode ter a sensação de ter escolhido o restaurante, mas foi ele quem escolheu você. A varinha escolhe o bruxo. Sente-se na maravilhosa poltrona diante de uma maciça e espaçosa mesa. Dois inexplicáveis rabiscos de neon salmão pendurados no teto nos lembram que dinheiro compra coisas boas, mas não compra gosto bom. Não que a comida e o ambiente sejam ruins, pelo contrário, são verdadeiramente bons. O chefe, Cláudio Mesquita, talvez seja o mais competente, detalhista e rígido-sem-ser-babaca da cidade. O que falta ao Press é o mesmo que falta a seus clientes: um conteúdo, uma identidade, um conceito que sustente a carne macia e o rostinho bonito.
Olhe o cardápio e se pergunte: o que o Press não tem? Do krathong thong ao “xiss” estrogonofe. Do tartare ao spätzel, do carré ao picadinho, da salada ao bacalhau, do rocambolesco camarão no abacaxi ao petit gâteau diet. O Press é todos, o Press é ninguém.
* O crítico estagiou e trabalhou na cozinha do restaurante entre 03 e 08/2017.