No fim de março, a casa na Rua Auxiliadora que antes abrigava o Xavier260 reabriu como Rosso l’Osteria. E que bello scambio! Parceria entre Gabriel Rossi (da Ciao) e Xavier Gamez, a Rosso exemplifica o quão extraordinário é um restaurante saber distinguir o extraordinário do ordinário. Do pão ao café, as escolhas de Rossi e Gamez são louváveis.
O couvert e a água filtrada são cortesias da casa. O pão surpreende, tem uma crosta maravilhosa, alvéolos lindos, acidez deliciosa. É na Rosso que descubro a Massa Madre – e essa descoberta sozinha já valeria a noite. Desce mais uma rodada, por favor! O pão é servido para embeber em um azeite interessante. Há um resquício herbáceo e alguma picância, mas está largamente oxidado. A Olitalia de fato tem alguns azeites de excelente custo benefício, pena que chegue ao Brasil velho e rançoso.
As entradas não chamam atenção, melhor gastar um pouco mais no vinho: um Colle Alto 2013 do Veneto. Que vinho espetacular! Como bom cabernet, é tanino com alguma acidez, tem notas de fumaça e frutas vermelhas. Muito equilibrado, muito prazeroso, um vinho realmente extraordinário: vale os R$100.
Pedimos de principais o rigatoni all’amatriciana (R$31), o penne alla carbonara (R$32), a lasagne speciale (R$39) e o riso di maiale, pisello e gemma (R$38). A lasanha, a mais famosa no Instagram, é turist trap. Não é ruim, apenas não condiz com a fama, há pratos mais interessantes no cardápio. Como, por exemplo, o risoto de porco, ervilha e gema. A gema, surpresa!, é curada. Algumas horas no sal e a gema chega a uma cremosidade de dar inveja ao ovo perfeito.
O carbonara leva um bocado de suco de limão siciliano, é inesperado, é delicioso. No cardápio, explicam que cada prato foi criado para um tipo específico de massa e escrevem decididos em dupla negação: “não se pode modificar ou alterar nenhum deles”. Como dupla negativa vira afirmativa, o próprio garçom voluntariamente oferece trocar penne por spaghetti. Pode alterar sim, a foto não me deixa mentir. Ainda bem. Penne alla carbonara? Acho que preciso ir para Itália me atualizar.
Nas sobremesas, fomos cegos e diretos no tiramisù (R$15). Caímos feito patinhos: cilada. Doce demais, café de menos e nem sinal de mascarpone. Nem perca tempo, vá direto ao café, que vem da +Kafeína, uma micro-torrefação que funciona no andar de cima. Kyo (ex-William & Sons), competente como sempre, oferece uma torra perfeita do catuaí vermelho da Família Vieira (ES). Cultivado a 1200m de altitude, o café é dominado pelo surpreendente e encantador flavor de grama cortada.