Barão Geraldo

Virginia Coffee Roasters
O café é bom, o que já é suficiente para ser uma luz no fim do túnel escuro que é Barão Geraldo (e Campinas em geral). Não que importe fazerem café do cultivo à xícara, o povo quer saber mesmo é do doce de leite e das bebidas tricolores, que ficam melhor no Instagram. (Também podem reclamar que o cappuccino seja só “café bem forte suavizado com leite”.) As comidinhas são dispensáveis, a confeitaria do mercado ali em cima se sai melhor, mas eu sempre acabo pegando alguma coisa porque capricham na vitrine e um docinho vai bem. O Virginia é legal, seria ainda mais se não precisasse reverenciar tanto os EUA para servir café sorocabano. Enfim, na verdade, existe um motivo mais específico (e justíssimo) para ir ao Virginia: é ótimo para primeiro encontros. Não sei explicar o que faz um lugar ser bom para primeiros encontros, apenas sei que uns funcionam, a maioria não. Moços e moças: o Virginia funciona. Chama o crush pra ir lá que dá bom. Se não der… bem, aí é culpa dos signos. Só falta liberarem wi-fi para podermos abrir o GrTinder e avisar que já chegamos. (É sério.)

Pastelaria Barão
Massa boa, óleo okay, recheios pavorosos que incluem os clássicos brasileiros: frango esturricado com plástico tipo requeijão, o apresuntado que esteja mais barato com queijo muçarela farelento, palmito com gostinho de lata, queijos plásticos radioativos e orégano pra todo mundo. Não haveria porquê escrever se não fosse o atendimento no terminal. Tem uma mesinha em frente a um buraco na grade e uma pessoa para atender e atravessar a rua com os pedidos dos comutadores. Isso sim é drive-through!

Barão Francês
Não entendo porque o R.U. fecha aos fins de semana e feriados. Estudante não almoça e janta nos fins de semana e feriados? Ainda bem que temos a Barão Francês para nos salvar. Eita feijão superalhudo, arroz com cenoura e vagem para dar aquela colorida, saladinha de alface amassada com azeite lampante e uns extras (cenoura, tomate, repolho-roxo e/ou pepino) que ajuda a refrescar o paladar. Mas o frango grelhado, ah!, o frango. Sempre dourado e, surpresa, feito na manteiga. Manteiga, manteiga. Quem diria, né? Ele fica deliciosamente amanteigado. A suculência vai da sorte do dia. Às vezes, as moças se empolgam, cozinham demais, o filé fica borrachudo. Mas não raro, elas tiram na hora certa e o bicho tá que tá macio. Tudo isso mais um suco de laranja por R$16,90. Xô, escorbuto! De brinde, tem o Mosquim, o garçom mais encantadoramente atrapalhado desse distrito, gente boníssima. De sobremesa, as melhores casquinhas de fast food em promoção logo ao lado: uma por R$3, duas por R$4 e três por R$5. Tá ou não tá valendo?

Sergel
Sentem, sentem, vamos conversar. Que sorvetinho mazomenos, né? Não dá, doce demais da conta. O de chocolate tem textura legal e sabor surpreendente bom por conta do cacau em pó, mas é açúcar até não dar mais. A garganta arranha lá pela terceira colherada. O mesmo com o de café, Ninho e afins. Os sorbets (como os de caju, limão, jabuticaba, açaí com guaraná) na bola ou palito são doces demais, sabores de menos e textura meh. Causa perdida? Não, não. Há uma exceção. Dependesse de mim, os potes de sorvete com feijão no congelador da minha rep seriam todos substituídos por picolé de menta da Sergel. Excelente cremosidade, sabor de leite pronunciado, bom sabor de menta (natural), o chocolate aparece (e é agradável!), o açúcar é tolerável. Recomendo.

Roots Burger
Tá, hambúrguer pede gordura e costela é uma peça gorda. Só que costela também é cartilaginosa, pede cozimento longo. Eles limpam e trituram bem a carne para mastigar as cartilagens. O resultado é que oxida e resseca a carne, e a cartilagem ultratriturada craquela na boca feito areia. (Deus queira que seja mesmo cartilagem.) Eles não perguntam ponto, veio bem passado. Mastigo e tem um único sabor: gordura rançosa, o hambúrguer tem gosto de carne gorda velha. De resto: pão fresquinho, molhos caseiros e industriais de qualidade (destaque pro barbecue super fumacento), picles caseiro bom. Só veio uma rodelinha de tomate e a alface estava toda machucada. Ruim mesmo é o nome… Roots. Sério? Roots? Se ainda fosse um lugar raiz… é total H&H: Heinz e Heineken. Faltou o leite com pera batido pela babá. O aroma predominante na comida e nas mesas é o de masculinidade frágil.

Bronco Burger
À moda Barão, o hambúrguer é de costela e o ponto é inspiração do chapeiro. Tudo vem em assadeiras desnecessariamente grandes e feias. Mas okay, é a ideia da casa, não é para ser bonito ou prático, é para ser bronco. Grrrr! O hambúrguer é defumadinho, crocante e salgadinho por fora; rosado, macio e suculento por dentro. O chapeiro é inspirado. Carne fresca, sem sujeiras, sem cartilagens. Picles caseiro, adocicado, ácido de menos. A maionese de alho é ligeiramente ácida, equilibradíssima, feita com óleo bom. Se for de soja, o vinagre e alho escondem o ranço. Não acredito ser soja. A batata frita não é industrial e, embora também fritem as pontas, vem nenhuma queimada. Ou o fritador é um às, ou é cuidadoso em tirar as batatas carbonizadas. O corte irregular confere variações de texturas e sabores. Eu gosto disso. O lema “o simples, bem feito” – surpresa – é posto em prática aqui.

Hot Dog Tiozinho
É cachorro-quente e mesmo assim tem um cardápio enorme. Não vai prestar. Incrivelmente, ninguém parece satisfeito com as dezenas de opções, todo mundo pede sem isso e sem aquilo, com provolone e Doritos (?). Ah, o consumo pós-moderno! Peço o que for da casa, tradicional, simples, sem nada a mais ou a menos, o tiozinho precisa de um tempo para pensar o que seria isso. Eu explico: queijo chulé, maionese de alho e ranço de soja, purê de textura duvidosa (ao mesmo tempo pedaçudo e com amido solubilizado e gelificado, ou seja, misturaram muito, trituraram pouco), o vinagrete é grosseiro, o sabor de lata do milho predomina juntamente com a acidez da mostarda barata. Não prestou.

Natural Sucos
A casa presta um serviço metodológico fundamental à ciência brasileira ao oferecer uma referência de alto impacto ao indispensável e produtivo procedimento conhecido como procrastinação. Queria ir para casa, mas o orientador tá em cima? Chama os pares para “fazer uma pausa”, ir no quiosque tomar um suco. As amostras analisadas eram aguadas e insossas com significância estatística em p<0,05. Parece ser um resultado inédito na literatura, pois os objetos desse estudo são elogiados com facilidade por assessores recrutados na comunidade. Espero se tratar de um enviesamento de ordem pessoal, decidido a fortalecer o álibi da procrastinação. Agora, se realmente acham bom, melhor rezarmos para que sejam todos cientistas teóricos, caso contrário, nossos empiristas demonstram uma preocupante dificuldade em perceber a realidade.

Casa do suco e vitamina do Vitachi
Quer suco bom? Vai no Vitachi. Mas vai com fome ou leva uma amiga, porque as vitaminas são polpudas e só de litro. Senta nos bancos de concreto à sombra da amoreira e da pata-de-vaca, ouve música sertaneja feita por – pasme – sertanejos, admira o mel direto do produtor vendido – pasme – pelo próprio produtor. Vitachi é tão rabugento e conservador que dá uma volta 180º, vira fofo. Recomendo os comentários no Yelp sobre o Vitachi, pessoa. Mais que roots, raiz. Perceba como a pressa na avenida parece algo distante, o relógio se arrasta, o contexto político da conversa no balcão é a posse do Jango. O divagar aqui é mais devagar.

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