O refresco do dia é de maracujá, manga e mate. O primeiro gole assusta com a acidez e amargor sem açúcar adicionado, depois a boca se acostuma, distingue claramente em ordem: a acidez e aromas do maracujá, o amargor e aromas do mate (batido e coado, não infusionado) e a doçura e aromas da manga. É possível que o gosto e aromas correspondentes se acompanhem fisicamente. Mais possível ainda é que o cérebro que faça a correspondência, dando atenção ao aroma conforme o estímulo nas papilas gustativas. O gosto puxa o cheiro. Que camadas, que refresco!
O pão é pálido e quebradiço, tem aroma de farinha e fermento. É assado em temperatura baixa para evitar que forme cor e casca, talvez porque depois prensam na chapa com uma manteiga deliciosa. A ideia era fazer um pão ruim para depois “consertar”? Soa uma brincadeira divertida, mas, mesmo com a manteiga, o resultado é sem graça. Imagino que os aromas formados pela reação de Maillard na crosta não ficam somente na superfície, volatilizam para o miolo e alteram o sabor do pão todo. Sem temperatura alta, sem crosta, sem Maillard, sem sabor. Então, parece que não é por acaso que todo mundo assa o pão normalmente, corta ao meio e tosta por dentro. Fica a manteiguinha delícia no meio e a complexidade de Maillard no pão todo. Às vezes, os dogmas se mantém de pé.

O porco defumadão e a cebola no papel do picles são maravilhosos. O ligeiro apimentado da mostarda está quase imperceptível. Por mim, tinha que carregar de cebola e lambuzar de maionese de mostarda. Até porque, de resto, o sanduíche só tem nulidades: alface e tomate de McDonald’s e aquele abacatinho gourmet que caiu no gosto dos almofadinhas justamente por ser insosso. Essa janela é do Chiplote ou do “39° melhor restaurante do mundo”? Mesmo sendo apenas a janela, seria de esperar mais. Esse porco não é filé de frango ou carnitas, aguenta e merece mais de seus acompanhamentos. No geral, o recheio é escasso e mal distribuído, uma das metades tinha um micro pedaço de alface e nada de abacate.
A janela não condiz com o que é servido lá dentro. Até aí, seria fácil de entender, Jeffim Rueda poderia apenas não manjar de comida barata. Só que tem o Hot Pork. Como o criador de um cachorro-quente impecável, disruptivo, merecidamente referência por todos os cantos do país serve um sanduíche desses? Minha infértil imaginação não consegue começar uma resposta. Sugestões?
Para além da comida, a iniciativa da janela é absolutamente incrível e louvável, tenho zero dúvida disso. Aquele texto do tal arquiteto me pareceu mal escrito e bastante injusto. Mas também achei injusto que, no susto de ter um totem atacado, todo mundo desqualificou incondicionalmente tudo o que foi escrito. Nenhum sobrenome justifica tudo.
Minha experiência: quase ao mesmo tempo em que uma mulher de cartão de débito cinza pergunta quanto tempo o lanche demoraria porque o ônibus passa em quinze minutos, Carlão pede para um pedinte pacífico e respeitoso se retirar. (Incrível como as mãos falam, né?) Ao mesmo tempo que inclui, A Casa do Porco exclui. Endosso alguns questionamentos do arquiteto, não pode fazer mal perguntar. Calçadas são de uso público ou privado? A Casa do Porco tem direito de expulsar pessoas da calçada? Qual o critério usado para expulsar alguém?
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