La Maison des Cariatides

La Maison des Cariatides é um ambiente diferenciado para pessoas diferenciadas. Pesados talheres e copos, maciças e espaçosas mesas e cadeiras, lindo salão. Há algo de sério nos clientes, maioria mulheres, em roupas relativamente formais. Exceto por um par de patricinhas, há uma certa solenidade, como se tivessem aqui pela comida, não pelo hábito diferenciado de pessoas diferenciadas em serem diferenciadas num ambiente diferenciado. Mmm… Fiquei curioso.

Há apenas uma garçonete para, eu contei, 34 pessoas. Ela está tranquila, à vontade, sem estresse. Faço meu pedido em tom de brincadeira, “trois ces: carote, carré et chocolat”, para ajudá-la a se lembrar, pois não toma notas e passa por outras três mesas antes de chegar ao PDV para digitar os pedidos. Parece que errou nenhum, tem o restaurante nas mãos, esvoaça pelo salão, toca nos clientes (que se encolhem, invadidos pela liberdade), dá de ombros e ri quando as patricinhas reclamam da demora. Uau.

Vinhos, apenas bourguignon com appellation, bom preço, por taça. No couvert, um brioche bem ovudo, quase omelete, com charcutarias e um pulo de gato: o adocicado de figo e morango desidratados. A entrada tem folhinhas potentes que desconheço, aromas cítricos e de erva-doce, um purê cenoríssimo e manteiguíssimo, gomos de laranja, crocante de curry que tudo perfuma, peixe defumado redondinho. No principal, a geleia de beterraba roxa é pungente, muito ácida e doce. A beterraba amarela blasé contrasta. O purê é batatudo, sem leite, pouca manteiga. Funciona com a costela gordurosa.

Incrível que todas as mulheres pegaram peixe, todos os homens pegaram porco. Eu achei difícil escolher. Foi a brincadeira dos três cês que me ajudou a sair do muro. Sou homem, por uma questão gramatical. As sobremesas de todos saem ao mesmo tempo, quase duas da tarde. Por isso quando o restaurante lotou meio-dia e meio, a garçonete passou a dispensar quem aparecia: não dá tempo de rodar mesa. O bolo de chocolate é decente, me deixou feliz. Sorvete amargo, frutas amargas, chocolate amargo, zero açúcar adicionado. Repito-me, o primeiro contato assusta, mas, em segundos, passamos a ver as estrelas da sobremesa: o cacau, os cítricos, o amargor, a acidez.

Quando o confinamento acabar, já sei onde almoçar.

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