Igor

Como o restaurante Igor em Curitiba entrega comida boa e primorosamente executada do início ao fim, cada um da mesa teve lá seu prato preferido. Um dos destaques foi a boa combinação de ostra com o caldo de frango, cujo sabor puxava inesperadamente para vísceras (um “copia, mas não faz igual” da ostra com tutano do Manu?). Outro foi a mil-folhas de mandioca, que arrebata pela textura e tem sabor destacado pelo chuchu fermentado cheio de graça e acidez. Em tese protagonista, a carne de onça desaparece diante das intensidades parelhas da mandioca e do chuchu. A caponata super defumada do couvert também teve fãs, mas o tartare de camarão, acompanhamento aleatório dos agnolotti recheados de creme de milho, foi o favorito da maioria. 

Meu preferido foi o olhete quase pastoso (xerox do servido no Manu) com caldo de mariscos, tartare [sic] de banana, quinoa crocante e um supérfluo arroz com pó de tomate. A banana verde, doce, ácida e marrenta elevou o peixe por contraste. Já as sobremesas, ficaram devendo. Uma, purê e sorvete de maçãs, é doce demais. A outra, é uma baderna de ameixas, biscoitos, iogurte e chocolate branco em que nada se destaca, nada se conversa. Curiosos, pedimos para provar uma sobremesa do outro menu: bolo de banana denso, quente e úmido; sorvete de banana, aveia e limão; doce de banana; e um supérfluo creme inglês com mamão. Tem frutado, tem acidez, tem doçura e tem boas texturas no bolo e sorvete: um final digno para a refeição.

No geral, embora tecnicamente primorosa, a cozinha não demonstra maturidade nas criações. O peixe, dizem, destaca a semelhança da moqueca e os curries asiáticos. Há semelhança? Qual? Com que curry asiático? São tantos e tão distintos. E, no prato, o que exatamente há de moqueca e o que há de curry? Outra, como agnolotti e tartare de camarão são uma referência a churrasquinhos tailandeses? Precisa mesmo de dois menus diferentes? Por que não um longo de sete e um curto com dois pratos a menos? Por que esse oniguiri, essa carne de onça, esses agnolotti, esse creme inglês parecem sobrar em seus pratos? Tem certeza que esse rock hipster combina com o ambiente e a comida?

Dizem que o menu longo conta a história do chefe de cozinha, um tema adequadamente egocêntrico para um restaurante homônimo ao Igor Marquesini. Mas é difícil fazer um menu coerente apenas juntando referências de cada lugar que ele pisou. Os estudos na Itália, os estágios na Espanha, os anos no vizinho Manu e o turismo na Tailândia precisam ser mastigados, digeridos e transformados em ideias e ideais, propostas e contribuições, talento e identidade. Sugeriria definir claramente a identidade do restaurante e os conceitos de cada prato, tirar os excessos até que nada mais possa ser retirado. Para se chegar ao espírito, é preciso destilar.

Deixe um comentário

Crie um site ou blog no WordPress.com

Acima ↑