Em Maceió, pão de queijo é outra coisa. É subir a ladeira Eustáquio Gomes de Melo e entrar na fila da Kidelícia para comprar uma caixa de pãezinhos de leite recheados com um creme suavemente pungente e com aroma de Cheetos. Além da versão salgada tradicional, pode-se pedir recheios doces em quantidades capazes de cegar qualquer diabético. Brigadeiro, Leite Moça, Charge, Kit Kat, Nesquik morango e outras tristezas que comprovam a denúncia do podcast Prato Cheio: a Nestlé colonizou a confeitaria brasileira de norte a sul, leste a oeste.
Aos indignados com as heresias, lembro-lhes que o pão de queijo nosso de cada dia tem nada de real oficial original verdadeiro. Primeiro, não é pão. É feito de polvilho de mandioca, não de farinha de trigo fermentada por leveduras. Segundo, nem sempre tem queijo. Queijo é caro e brasileiro é pobre. Terceiro, não é criação brasileira, nem mineira. Já tinha sido registrado por jesuítas séculos atrás e variações tão ou mais velhas que a nossa podem ser encontradas por todos os lados da América Latina. Quarto, ele também vive se lambuzando de Nutella, Havanna e Ninho por aqui.
Mas, em Maceió, pão de queijo é outra coisa. Embora compartilhe nome e usos (também está presente nos lanches da tarde, nas confraternizações da empresa, nos aniversários infantis), a diferença do pão de queijo da Kidelícia é sua textura. Leve e macio feito algodão, é assado, recheado e vendido em questão de minutos. O objetivo é que o pãozinho se dissolva na boca e assim ele faz. Algo que nos leva a perceber que a Nestlé colonizou não só a confeitaria, mas também a nossa vã filosofia sobre a confeitaria, pois tudo que vem à cabeça é: eles são frescos porque vendem mais ou vendem mais porque são frescos?
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