Por fora, o @Curry36 é aquela coisa toda: currywurst mit Darm (intestino) barato, long necks geladas, mesinhas sujas numa calçada escura para comer de pé, atendimento impaciente, chapeiros sem delicadezas, público masculino composto por jovens turistas e trabalhadores de colarinho azul. Feitos na casa, os salsichões e o ketchup são cheios de personalidade e a personalidade é sem graça. O salsichão é esponjoso, pouco carnudo, suave pro insosso, a casquinha de intestino crocante e tostadinha que faz valer os €2,60. Sulino, @davidmxml diz que eu preciso provar o Almdudler, um refrigerante austríaco que se descreve como “alpino”, sem explicar o que isso significa. Parece suco de maçã gaseificado, suave sem ser insosso, pouco doce, pouco gaseificado, azedinho, talvez algumas notas herbáceas e um retrogosto abacaxi. Refrigerante para adultos, gosto.

Por dentro, a coisa é diferente. Uma plaquinha bem discreta no fundo da loja avisa que fazem seus salsichões com porco orgânico. Em um mundo dominado por nós, hipsters, até estranha não ver isso alardeado como pompa e fanfarra, eles nem sequer cobram mais caro que ambulantes na rua (afinal, o custo da carne em si não deve passar de 10% do preço final). Talvez sejam discretos por medo do público-alvo achar ruim ser orgânico (sei lá, frescura), importante é ter o maior pedaço de carne pelo menor preço (no fim, metade do salsichão é ar). E mais, eles vendem salsichão vegetariano! Em outro lugar, chegamos até a ouvir “es ist keine Wurst”¹ quando perguntamos por currywurst vegetariano. Feito de proteína de soja ou qualquer outra coisa extrusada, o veg da 36 tem sabor de MDF (não que eu já tenha comido MDF) e retrogosto amarguinho. As texturas dos dois são bem parecidas, o que não é um elogio para a versão vegetariana, mas uma crítica para a animal.
Ou seja, o Curry 36 é tipo o HxH discreto sigilo, se faz de macho gostosão, mas não é bem assim. Ué, tá rindo do quê? O que mais você esperava de um lugar que oferece salsichões roliços bem na porta da Boiler? Nada é por acaso nessa vida, nada é por acaso.
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¹ Ano passado, o Parlamento Europeu engavetou a emenda 171 (curioso ser o artigo, e gíria, para estelionato no Brasil) que proibiria alimentos vegetarianos de usarem qualquer referência aos equivalentes animais (desde nome, como “leite de soja”, “hambúrguer de vegetais”, até palavras relacionadas ou comparativas, como “cremoso” e “sem lactose”). Esse assunto tá puro dedo no cu e gritaria no momento.
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