Se o couscous é um dos pratos preferidos dos franceses e o tikka masala entrou na lista de pratos nacionais dos britânicos, o kebab já ultrapassou o currywurst nas ruas alemãs. O döner kebab alemão provavelmente foi inventado por imigrantes turcos já na própria Alemanha, caindo naquelas discussões da comida que emigra ser melhor que nas suas origens, como a pizza em Nova Iorque ou o sushi de goiabada no Brasil. Atentem-se que, em turco, “kebap” significa churrasco/grelhado e “döner kebap”, grelhado nos espetos verticais. Na Alemanha, chamam o sanduíche no pão pita de “döner kebab”, mesmo quando ele é recheado de coisas que não são churrascos de espeto vertical, como falafel e haloumi, e a carne no espeto vertical de “gyros”. Só para militar: não há certo ou errado. Na língua, importa o uso¹.
A diferença não fica só nos nomes. Na Turquia, kebap-erias são churrascarias, com mesas, cadeiras e preços medianos, que vendem uma diversidade de carnes grelhadas, normalmente servidas em travessas de metal com arroz, salada e uma pimenta inteira. De sanduíche, pelo menos em Istambul, vi apenas dürüm: pão yufka e carne de ovelha enrolados à la wrap. Já na Alemanha, döner são comida de rua barata, sanduíches em pão pita abertos como uma sacola, em geral, transbordados de frango ou falafel (dada a alta porcentagem de vegetarianos no país), salada (em especial, repolho, tomate, cebola e salsinha) e muitos molhos à escolha.

Mas chega de lero-lero, falemos do @mustafasgemusekebap em Berlim. A foto não me deixa mentir, é uma refeição caprichada. Pão decente, sobrecoxa de frango suculenta e dourada, molhos complementares entre si (iogurte de cabra azedinho, molho adocicado de pimenta), e, como promete o nome, muitos vegetais (colhidos num campo de trigo). Salada vistosa, muitas ervas e uma bagunça de vegetais vivos mesmo depois de fritos por imersão: batata, cenoura, pimentão, abobrinha… É uma bagunça colorida e deliciosa por apenas €4,30. Vivo a repetir que boa comida de rua faz mais pela felicidade de um povo que os melhores e mais premiados restaurantes, devemos celebrar e aproveitar.
É, então, uma pena que tenhamos que esperar em média uma hora para comer no Mustafa’s. A equipe se debate dentro da banca, não há funções claras, nem sequer uma pessoa específica para ficar de caixa e não tocar na comida. Quando se tem fila todos os dias, o dia todo, a venda é certa, não existe desculpa para não estar pronto. É estruturar, deixar o mise impecável, organizar fluxos e gritar “próximo”. Apesar da história divertida e do excelente kebab, ficar tanto tempo numa fila que não anda por mera incompetência e desinteresse do lugar me faz perder o apetite. Há outros bons kebabs que respeitam nosso tempo.
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¹Brasileiros só poderão julgar uso aleatório de palavras estrangeiras quando pararem de chamar flash drive de pen drive, screenshot de printscreen, bolinho cru de petit gateau, etc., etc. Haha
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