Ora

Se eu morasse em Berlim, iria com frequência ao @ora.berlin. E, acredito, não há melhor elogio a um restaurante. Nunca medi restaurantes com notas, estrelas ou ranqueamentos porque acredito que eles têm funções e propostas diferentes que não podem ser comparadas. É como tentar comparar um martelo e uma chave de fenda, não faz muito sentido. Acho que, no fim, a questão é valer a pena, ser útil, suprir nossa necessidade naquela refeição, fazer a gente feliz. No Ora, a comida não é extraordinária, espetacular, revolucionária, genial. E tudo bem, não é essa a proposta, eles entregam o que prometem e cobram de acordo com o que entregam: comida bem feita, média-alta, direta, honesta. Com três pratos a €40 e bons vinhos a partir de €5 por taça, daria para ir todo mês, sem motivo especial, apenas para ser feliz.

O crudo de sander é um prato suave e harmônico, me ganha com o caldo de pepino geladinho e adocicado. Já o rillette de porco é bem natalino, cheio de especiarias, tão gostoso que ignoramos a cor de burro quando foge e a fatia de pão encharcado e desleixado. Nos principais, a corvina grelhada é meio algo que se faz em casa, com os vegetais que tem na geladeira, no caso da geladeira do Ora, pimentão, berinjela e vagem. Usam bem a doçura e acidez do pimentão, defumam bem a berinjela, entregam o peixe impecável com a pele crocante e a carne suculenta. Os medalhões de veado selvagem são macios e insossos como filé mignon, assim, são os cogumelos amanteigados e couve refogada que me encantam. As sobremesas brincam deliciosamente com as texturas no pegajoso do parfait de manteiga marrom que acompanha as maçãs pochês e no crocante suspiro de lavanda com framboesas e sorvete de iogurte.

Oras, o Ora me fez feliz.

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