A Padeira

Para começar, é só quarta, quinta e sexta e temos de comprar com semanas de antecedência. Chato, mas tudo bem, que bom que @a_padeira está com demanda alta e que não comprometem qualidade pela quantidade. Pelo site, só se pode comprar para entregar e eles entregam num raio de 6 km. Chato, por que não podemos pedir no site e simplesmente marcar “para buscar” em vez de entregar? Para ir buscar, tem de mandar zap. Só que eu não tenho zap, justamente em protesto a esse zapcentrismo. Chato, mas tudo bem, não ter zap é escolha minha, azar meu. Então telefono, mando e-mail, mensagem no Instagram, sinal de fumaça no metaverso e sou ignorado em multiplataformas. Já não tá tudo bem, que diabos! Eu só queria um pão, apenas um pão, tenho que implorar para conseguir um pão? Pois imploro, dou a patinha, finjo de morto e peço pro @igorbaptista mandar um zap. Respondem instantaneamente. Argh! Esse zapcentrismo me mata, custava responder meu e-mail, minhas mensagens, minha ligação?

Ainda fica pior. No zap, o pagamento é antecipado por pix. Chato, só os locais diferenciados podem comprar no site e pagar com cartão, mas tudo bem, são uma padaria de bairro (ahaaam). Faço o pix e adivinhem como temos que enviar o comprovante? Por e-mail! Sim, o mesmíssimo endereço para o qual mandei meu pedido e fui solenemente ignorado. Não, não está tudo bem, está nadica bem, e a novela ainda nem acabou. Me organizo para sair de Campinas às 14h00 e chegar antes das 16h30 porque no IG e site dizem ser até 16h30. Perto das 15h, avisam meu irmão no zap que fecham às 16h. Vejo a mensagem do meu irmão quando chego em SP e saio correndo. Agora, tenta chegar de transporte público para você ver. O metrô mais perto fica a 1,2 km de subidas e descidas íngremes. Os ônibus que passam na frente são dois, um sai da Lapa, outro dali do lado mesmo. Argh, que inferno esse carrocentrismo (que não é culpa da padaria, claro). E olha que nem de carro é fácil chegar. É uma padaria exclusiva em tantos sentidos, no horário, na localização, no atendimento, no preço (estão de acordo com a categoria, a categoria que é exclusiva). Pena que a moda agora é ser inclusiva, né.

Quando chego esbaforido na loja às 15h55, meu irmão tinha acabado de passar e pegar a sacola. Imagina o meu ódio mortal duplo twist carpado ao comer, finalmente, o pão azedinho, mais bactérias que leveduras, bem aroma de levain vivo/cru, o que talvez seja meio enjoativo, aromas mais cerealosos e maillardentos seriam mais convidativos. Os alvéolos são pequenos e despretensiosos, um posicionamento contra a ditadura dos alvéolos grandes e farinhas fortes, destacando os grãos diferentões e antigos. A casca é fina e saborosa, tem cerealoso e algo a mais, bem único, um descritor não comum para pães que está na ponta da língua e não vem. As massas folhadas são boas mesmo que normalzinhas, meio sabor de pão com manteiga de padaria, alvéolos achatados, textura mais brioche que folhada. O rolinho de goiabada é insosso, massa sem graça particular, pouca goiabada. O chocolate @missionchocolate do pain au chocolat é, de fato, cheio de presença, aromático, ácido, frutado, intenso. Prova que, sim, é possível fugir do belga, mas, ao menos essa massa, não acrescenta ao chocolate.

Acho que o saldo final é: A Padeira vai bem sem mim, obrigada, eu vou bem sem ela, obrigado.

2 comentários em “A Padeira

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  1. Ótimo texto, Yuri! Por curiosidade, como vc adquire tanto repertório para falar de forma tão técnica sobre o que come? Vc traduziu várias coisas que experienciei comendo os pães da padeira, mas se eu puder só acrescentar uma informação, meus pais moram perto da loja dela e vira e mexe passo por lá, ela costuma ter bastante coisa a pronta entrega viu? Se não me engano, só os pães recheados de passas e afins precisam de uma reserva prévia. Parabéns mais uma vez pelo trabalho!

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    1. Uai, comendo, cozinhando, pesquisando, degustando, conversando, tudo acaba em repertório.
      Ah, eles têm pronta entrega? Sabia não, bom para quem vive perto. 🙂

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