Sento no bar do @joebeef e não poderia começar com outra coisa que o tartare de carne de cavalo, uma particularidade da parte francesa do Canadá. O bartender diz que a diferença está na textura, cavalo seria menos macio que vaca, mas eu não sinto diferença alguma. Talvez seja apenas efeito psicossomático do imaginário de um alazão correndo num campo idílico contra a imagem de uma vaca confinada em um campo de concentração bovino. Aliás, poderia muito bem ser carne bovina e ninguém contestaria. E agora, será que era mesmo de cavalo? Tantantantam! Nunca saberei. Sei que o tartare é salgadinho, azedinho, docinho, pungentinho e estimulante por conta do picles e do worcester. Cavalo ou não, pediria de novo simplesmente porque é bom, bom, bom.


Um dos gerentes senta na mesa ao lado e fica meia hora conversando sobre vinhos e pratos com os clientes. É um lugar que se importa com a comida. O bartender puxa assunto comigo, conta que veio trabalhar aqui por conta do Anthony Bourdain, que amava esse restaurante e era parça dos donos. Quando contei pro @kelvincreates que eu vinha para Montreal, as primeiras coisas que ele me falou foi: Joe Beef, carne de cavalo, Bourdain. Vejam vocês, há quantos anos esse episódio foi ao ar e até hoje o restaurante colhe os frutos dele. Fico me perguntando o quanto do sucesso do Joe Beef, direta e indiretamente, vem dele. É imensurável, mas talvez 70%, 80%? Se a vida me ensinou algo, ensinou que sucesso não tem correlação com qualidade. Não que a comida do Joe Beef seja ruim, apenas que, de todos os restaurantes que fizeram ou fazem boa comida em Montreal, o Joe Beef é de longe o mais famoso, icônico, movimentado. E o motivo, todo já conhece: Bourdain.
Enfim, não sei se a falha na comunicação foi minha ou dele, fiquei com a impressão de que o bartender me vendeu ovelha com batatas e eu recebi porco com figos e uvas. A cara estava boa, a inércia estava alta, aceitei a troca. O lombo estava impecavelmente braseado, mas eu devia ter vencido a inércia. O prato era natalino e doce demais para o que eu estava querendo comer, ainda mais depois de uma entrada também adocicada. De sobremesa, não tinha o bolo marjolaine, então tive de me contentar com um bolo de morango, ruibarbo e chantilly muito blasé. Achei curioso que a comida cumpra rigorosamente a proposta de imitar um bistrô francês, mesmos sabores, técnicas, ingredientes, alma. A diferença é que na França essa refeição custa €30-40, aqui custa CAD$130. Acho que faz sentido, manter algo fora do seu terroir costuma ser mais custoso.
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