Maastricht é um destino turístico tão popular entre os sul-holandeses que as placas, cardápios e cumprimentos são menos comumente bilíngues que na própria província de onde os turistas vêm. Goedendag, dankjewel, fijne avond. Na Holanda do Sul, Limburg tem fama de levar uma vida mais lenta, de apreciar a vida e não pensar só em trabalho. Para mim, Maastricht tem um charme afrancesado, meio que um gostinho da França sem que os neerlandeses tenham que lidar com os franceses, a língua francesa, os trens franceses ou os preços franceses. Falando em francês, foi em Maastricht que um imigrante francês abriu a brasserie @harrysmaastricht em 1912. Cem anos depois, a cozinha visível através de uma vitrine para a rua serve algo incomum: ingredientes comuns, sem complexidade ou brilho particular, executados com objetividade e sabor.




No cardápio especial de Natal, o amuse junta tuille, queijo de cabra e beterrabas assadas: um clichê que funciona. O pãozinho de sal, farinha branca e fermento cerevisiae é pouco complexo, mas com crosta elegante, leve sabor de biscoito de polvilho e raro frescor. O salmão ordinário foi o ponto fraco da entrada liderada pelo leve e frutado gaspacho com beterraba e creme fresco com aromas cítricos refrescantes. O filé de veado, repolho tostado, cogumelos e purê de armoracia do principal estão bons sozinhos, só não se conversavam muito. A torta desconstruída de maçã com sorvete de canela estava perfeita ao manter os sabores e mudar a apresentação.
Fico espantado que abram todos os dias, 7/7, 365, das 07h às 23h (estavam abertos na manhã de Natal!) e sirvam comida decente. Também me surpreende que se mantiveram fiéis aos níveis baixíssimos de sal e açúcar da culinária burguesa do interior francês, não cedendo aos níveis altos que agradam o paladar neerlandês. Com preço apropriado, o ordinário entregue com esmero pelo Harry’s é mais que suficiente, é um presente.
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