O site tem uma única citação: Ruth Reichl dizendo ser um “pequeno sonho de restaurante”. Escolher citar Reichl diz mais sobre o lugar do que a citação em si, pois mostra quem eles tomam como parâmetro. Reichl, eu já sabia, é parâmetro certeiro. O restaurante Canis em Toronto serve um delicioso menu degustação de 10 cursos por 95 dólares canadenses.
Meus favoritos foram o sourdough com ricota e picles de cenoura (elementos completos e excelentes sozinhos, transcendentes juntos); a linda (olhem o nivelamento perfeito das camadas) tortinha de patê de fígado de pato com geleia de mirtílio (graças a deus, mais ácida que doce, açúcar só para suavizar o ligeiro amargor do fígado) e tomilho-limão; e o suave e macio cordeiro com licorosa beterraba assada e potente iogurte.
O halibute perfeitamente pochêzado acompanha salsão triplo: assado, cru e molho de levístico (“taste like celeriac, but much better”, me explicam). Equilibrado e perfeitamente executado, achei mono-tom. O salsão assado traz terrosidade e amendoado. De resto, prato redundante. Se levístico é muito melhor que salsão, não mostraram isso.
O porco com couve-de-bruxellas ralada e tarê estava doce e chinês demais. Chinês demais? É, ficou fora de lugar. Okay, nada mais contemporâneo que servir tortilha, tartar, patê, ceviche, pochê e shawarma. As metrópoles são cosmopolitas, é latente, é necessário pensar isso na cozinha contemporânea. Mas referências precisam ser referências, de forma que os pratos ainda se encontrem no contemporâneo, sob risco de virar um bufezão de sushi com churrasco.
De sobremesas: semifreddo de hippophae com merengue de louro; e bolo de manteiga queimada com xarope de ácer defumado, chips e sorvete de tupinambo. Ambas inventivas e deliciosas demais para nos importamos com a péssima choux de aveia com abóbora e caramelo de chocolate branco que servem de brinde. O off-flavor da aveia esmaga qualquer sabor que o recheio insosso poderia ter.
Enfim, pedantes implicâncias. Voltaria sempre.