Comptoir Gourmet

Minha primeira noite na cidade era a sua última. Ele insiste em nos vermos, eu respondo que uma refeição de verdade faria bem depois de aviões e aeroportos. Ele diz conhecer um lugarzinho, eu me deixo levar. O lugarzinho se chama @ComptoirGourmet. Tudo em Paris agora se chama Comptoir. Nada nomeado Gourmet pode prestar. Exceto Gourmet Makes da @bonappetitmag. Cozinheiros e garçons são jovens, brancos e franceses. Aqui, restaurante não é trabalho só para marginalizados, desde antes de virar moda. Pais ainda preferem filhos advogados, médicos e engenheiros, mas aceitam filho cozinheiro.

O cardápio surpreende. Apesar do nome francês, a comida e vinhos são italianos. Sanduíches, queijos e embutidos. Vamos dizer que o conceito de uma refeição de verdade varia. Ele diz não gostar de comida francesa. Descendente de italianos, natural ter alguma rivalidade culinária. Peço para justificar, elenca apenas motivos errados, “snails and liver? not for me”. Gosta de carboidratos e proteínas fáceis. Talvez, quando diz ser nascido e criado em NYC, esteja incluindo NJ. Nova-iorquinos não costumam ser quadrados assim.

A torta com framboesas estava no “comptoir”. Olhou para mim assim que entrei e eu olhei de volta. Como nada mais interessante acontecia, continuamos trocando olhares ao longo da noite. Peço uma fatia, vejo colocarem chantili e açúcar confeiteiro, a ficha cai na hora: era cilada. A conta leva meia hora para chegar. As megalópoles do Novo Mundo têm ânsia de fazer o mundo girar, uma janta chata dura meia hora. Paris é megalópole, mas não tem pressa. Nas ruas e metrô, as pessoas andam devagar. Uma janta chata vai para mais de hora.

Usando cansaço de desculpa, fujo de volta para o 11°. Na porta do metrô, um turco oferece kebab, pizza e crepe noite adentro. Como eu nunca aprendo, arrisco um crepe. A manteiga doura “noisette”, as bordas douram Maillard, os aromas invadem a rua. Feito com leite, ovo e manteiga gordos e frescos, o bom crepe tem aromas, o bom crepe tem texturas. Não achem que todo crepe na França brilha, tem muita coisa ruim circulando por aí, muita coisa ruim. No frio da noite, o crepe fumega e conforta. Vamos dizer que o conceito de uma refeição de verdade varia.